Essa história de parto humanizado é mesmo muito esclarecedora!!!
Podem me apedrejar, mas ainda tenho muito medo e insegurança quanto a ter meu bebê em casa, talvez pela cultura que já está entranhada nas mulheres do meu tempo, principalmente nas que moram em cidade grande.
Eu nasci em casa, com parteira... assim como minhas duas irmãs seguintes, só a caçula nasceu no hospital porque a madrinha Maria Balbina, já estava muito velhinha e minha mãe não confiava em mais ninguém.
Confesso que nunca me ocorreu de perguntar à minha mãe se teve alguma diferença!
A gestação da minha Maria, foi perfeita! Engordei o ideal, pressão ótima, tudo certinho... mas, nosso dilema foi justamente na hora do parto.
Era outro momento da minha vida, não era tão nova, porém, numa cidade estranha, com gente que eu mal conhecia...
Devido a um problema no meu plano de saúde (pela mudança de cidade, perdi a carência - fui enrolada por um corretor), fui parar num hospital público.. na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, um lugar cheio de freiras por todos os lados... juro que optei em ir para lá, justamente por causa disso...
Minha bolsa estourou, 30 horas antes de Bel nascer... corri para o hospital!
Pois é, assim que pisei lá já me avisaram que não poderia comer mais nada e olha que nem tinha jantado naquele dia.
Foram momentos torturantes, primeiro porque ninguém te fala nada, as enfermeiras e médicos mal olham pra você e a água saindo...
Por volta de 14h do dia seguinte, comecei a sentir dores e com ela, a água que escorria já saía esverdeada... isso mesmo, meu bebê entrava em sofrimento, lembro-me que ouvi uma residente falar com o médico chefe,"dr., está saindo mecônio".. senti que ela estava preocupada comigo! Mas ele não fez nada, apenas orientou que me levassem para a sala de pré-parto! É isso mesmo, lá tinha uma sala, onde te largam sozinha, um lugar meio escuro e isolado, onde você pode gritar à vontade, ninguém vem te ver... A esta altura, a dor já era insuportável, não tive soro, nem ao menos alguém para trocar a minha roupa, (acreditem, eu estava com a roupa que vim de casa, inclusive o sutiã), hora ou outra, alguém entrava e via a tal da dilatação.. que acontecia muito devagar... tinha um relógio numa das paredes e vi que já eram 18h... já estava sofrendo com fortes dores desde às 14h, perdendo água e saindo mecônio e ninguém fez NADA. Nem ao menos a lavagem que dizem ser comum fazer, fizeram em mim... então já sabem né... pois é, foi humilhante! Na hora que eles viram que não tinha mais jeito, me levaram para outra sala, an-dan-do, o médico que a esta altura já era outro, o anterior me deixou lá jogada porque era final de plantão... o que assumiu o plantão, se recusou a fazer meu parto, pois eu estava muito suja e ele estava com nojo.. rsrs.. é, eu tive que ouvir isso!! Quem fez meu parto, foi uma residente...
Meu bebê nasceu com apgar 4... é tipo um 'termômetro' se o bebê nasceu bem ou não, onde 10 é quando o bebê nasce super bem.
Meu bebê nasceu sufocado, só chorou depois de alguns segundos, uma eternidade para mim! Então colocaram a carinha dela para eu ver, a imagem do rostinho dela, ahhh essa vai comigo para o túmulo né... nunca me esqueci!!!
A médica que terminou o meu parto, foi muito simpática, tentando me distrair enquanto dava os famigerados pontos...
O dilema não acabou, me levaram para a enfermaria e vi que os bebês iam chegando e nada do meu... perguntei a enfermeira, que apenas disse que ela viria em breve...
Adormeci...
Na manhã seguinte, fui tomar um banho... isso mesmo! Estava imunda... os bebês voltaram novamente e nada do meu...
Foi quando a enfermeira me disse que ela estava muito cansadinha por isso estava na encubadora, quase surtei... tive que caminhar até o berçário, um lugar distante uns 50m, imagina alguém toda cheia de pontos ter que caminhar tudo isso... meu bebê estava lá, não pude amamentá-la, meus seios explodiam, nem ao menos tentaram tirar o leite com a bombinha, deram chuquinha pra ela!! Perguntei à pediatra se ela ficaria bem, a resposta foi.. 'acredito que sim', de costas para mim! Depois disso, só me lembro de estar na cama da enfermaria, isso mesmo, desmaiei de tanto terror com aquela declaração.. quando acordei tinha uma 'psicóloga' para falar comigo, rsrs... GARGALHEI!! Só disse a ela o seguinte, NÃO PRECISO DE VOCÊ, QUERO O MEU BEBÊ!!! Ela saiu assustada...
No dia seguinte, ela já podia sair da encubadora, mas não do berçário, então eu tinha que ir caminhando até lá para vê-la, e pude então tê-la em meus braços..
Acha que acabou? Não....... Foi muito difícil fazê-la mamar no peito, pela minha falta de experiência e mal jeito, pelo fato de terem dado uma chuca pra ela mamar, ela não conseguia sugar, pela dor que eu sentia no próprio seio e ainda pelos pontos inflamados pelas caminhadas constantes até o berçário... me deram um banquinho de madeira para sentar.. rsrs..
Ficamos lá por cinco dias, meu bebê tomava duas injeções de antibióticos por dia na perninha, por causa do mecônio que entrou em seus pulmões, o caroço na perninha dela, demorou alguns meses para desmanchar...
Quando saímos, alguns dias depois, voltei na médica do posto de saúde e contei todo o ocorrido, foi quando ela me disse que o meu caso era para cesária, logo na manhã seguinte à internação, minha placenta estava rota e isto fez com que meu bebê entrasse em sofrimento. Um tempo depois, também descobri que tinha um desvio na coluna, por conta de todo o tempo fazendo força sem necessidade.
Alguns meses depois, o SUS mandou um relatório, tipo pesquisa de opinião... eu relatei todo o ocorrido e vocês acham que aconteceu alguma coisa??? kkkkkkkkkkkkkkkk....
Minha Maria Isabel, princesa da mamãe, nunca teve sequelas, goza de uma saúde muito boa, com a graça de Deus!! Mamou até os dois anos de idade, porque eu fui perseverante naquele começo dramático e suportei a dor bravamente.
Desculpem-me pelo texto imenso, mas desde que descobri que estava grávida, isto tem sido um dilema para mim! Parto normal?! Nunca mais?! Não sei...
Hoje vivo outro momento, graças a Deus! O obstetra que me acompanha é muito bom e diante do relato acima, acha muito cedo para discutirmos como será o parto... no fundo, ele já sabe, mas tem me deixado bem à vontade para escolher, sei que na hora o que vai pesar mesmo serão as minhas condições e a do bebê e isso não tem preço para mim!
Segue o link de um blog fofo
Adele Doula, que descobri esses dias e conta o relato de outras mães, que assim como eu, também sofreram violência obstétrica.
Euzinha, com um rapazinho de 21 semanas na barriga, que se chamará DON!
Obs.: revivendo tanta coisa ruim para escrever este post, me esqueci de dizer que quando meu bebê pode ir para a enfermaria ao meu encontro, a enfermeira me notificou para ter cuidado porque a clavícula dela tinha sido fraturada no parto.
A fragilidade era tamanha, a falta de informação e apoio também! Hoje vejo que deveria ter processado aquele hospital! Graças a Deus, o Ministério Público interditou aquele antro por outros motivos.